
“Valentin” é mais um pequeno tesouro do tão humano cinema argentino, mais preocupado em contar histórias simples de afetos e relacionamentos que poderiam ter acontecido com a gente [ou aconteceram mesmo, de forma parecida]. O Valentim do nome do filme é “apenas” um menino. Mas como já sabe viver. E viver, de verdade, só pode ser lutar. É isso o que faz todo dia esse garoto de classe média baixa que mora sozinho com a avó numa casa humilde, mas confortável, na Buenos Aires, Argentina, dos anos 60.
A luta de Valentin é para reconstruir sua família, partida desde que sua mãe fugiu, por não agüentar mais os maus tratos do pai. Pai esse que não some, mas também sai de casa, deixando o moleque com a avó. Sim, muitas crianças crescem bem cuidadas e cheias de carinho quando são criadas pelos avós. Não é o caso da amarga e triste “abuela” de Valentin.
Como lutar para ter uma nova família [pai e mãe]? A única esperança do menino é sempre uma nova namorada de seu pai. O problema é que seu velho, agressivo, acaba espantando uma por uma. Ou as mulheres que ele encontra fogem muito dos ideais do menino, de uma nova mãe linda, delicada, carinhosa e com os cabelos da cor que mais gosta numa mulher.
Mas o desenvolto guri não desanima. Não é daqueles de ficar se lamentando [mais um daqueles filmes de crianças metidas com jeito de adultas? Não, é apenas um pequeno que fará de tudo para ser feliz, para receber mais amor, e poder dar também].
Vai à luta então Valentin, enfrentando a super proteção da avó, tentando fazer novos amigos, como um solitário pianista de rock seu vizinho, sonhando com o que será no futuro [divertidas as cenas em que mostra seus brinquedos que inventa pensando em virar astronauta] e, sobretudo, torcendo para que seu pai arranje A NAMORADA.
Um dia ela surgirá. Como Letícia [a belíssima Julieta Cardinali], a namorada do velho que Valentin sonha em ter como mãe.
Mas esse é um filme argentino. Não é Hollywood, onde ser feliz parece muito fácil. E filmes argentinos são como a vida real, cheia de imperfeições e desencontros.
Mas são também filmes simples que tentam nos ensinar algo bonito [sem apelar para cenas ou música melodramáticas], como a vida de quem jamais desiste de lutar. De quem não abaixa a cabeça ou se esconde atrás de pequenos problemas, como a avançada miopia de Valentin, atrás de seu óculos de lentes enormes.
E esse Valentin [uma das mais espetaculares atuações de uma criança no cinema, por Rodrigo Noya] é um lutador maravilhoso que nos deixa, ao sair do filme, aquele sorriso de esperança fundamental.