domingo, 11 de maio de 2008

O melhor da juventude


“Um minuto de silêncio perante essa poesia”, assim celebra e vibra o entusiasmado Carlo enquanto mostra um lugar em que deseja viver com a família] para seus amigos do peito, na tão verde, luminosa e bela região da Toscana, na Itália. Já casado e com filhos, Carlo está conversando com seus amigos de adolescência, que continuam fiéis quase trinta anos depois. O problema é que o lugar-poesia são apenas as ruínas de uma casa e muito mato alto, mas ele pede “um pouco de imaginação e fantasia” para os amigos entenderem a magia dali. Carlo é um dos personagens do filme italiano “O melhor da juventude” [La meglio gioventú*], uma sublime e delicada saga que acompanha a vida de três amigos plenos de paixões, dos anos 60 até os dias de hoje.

Carlo, Vitale e Nicola eram garotões sonhadores amantes do rock, da bonita música italiana romântica, de belas “raggazzas” [garotas] e lambretas que faziam da vida um espetáculo de amizade, respeito e dignidade – entre si e com os outros. Um dia acabam separados por uma viagem que não dá certo, pelas alegrias e pesadelos da vida numa conturbada e violenta Itália das décadas passadas.

Nicola sofrerá mais - com seu tímido e triste irmão Matteo, com a jovem Giorgia, que ele e o irmão salvam dos maus tratos de uma clínica psiquiátrica, com o amor por uma mulher que não o merece, com a dificuldade de criar uma filha sozinho – mas nunca abandonará, apesar da solidão, uma contagiante esperança pela vida. “Tudo é bonito”, é uma de suas mensagens, sobre uma viagem antiga, que ele levará pela vida toda. Porque Nicola é daqueles bravos que caem, muitas vezes, e choram, mas nunca perde a esperança e a graça de fazer os outros sorrir e perceber quantas maravilhas e possibilidades existem nessa vida, mesmo que elas demorem tanto para se concretizarem.

Mas talvez ele só não tenha desistido, e perdido, porque, em momentos cruciais, contou com uma palavra, um abraço e um olhar fundamental de seus amigos da juventude que não o deixaram.

Amigos como Carlo, aquele que pediu um minuto de silêncio pela poesia de uma bela paisagem e projeto de casa-vida.

Amigos como vocês, que deixam um carinho-comentário, um abraço, que dizem coisas bonitas nas baladas, viagens ou em simples aulas. Um minuto de silêncio então pela sensibilidade e amizade-amor-ternura que vocês demonstram e que jamais esquecerei.

E tentem lembrar também de outro pedido de Carlo: quando as coisas não estiverem claras ou quando não estiverem dando muito certo, é vital [e faz tão bem!] lançar um olhar - para a vida e nós mesmos - com “um pouco de imaginação e fantasia”.

* O filme passou no canal Cinemax.